terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Salvem os meus cabelos, não a minha vida

                Dia de casamento, formatura, reuniões importantes e aniversários, a mulherada corre para o salão do cabeleireiro e passam horas tentando deixar o cabelo o mais liso possível.
 Quando saímos do salão tomamos todo o cuidado do mundo, para que nenhuma gotícula de água passe por perto dos nossos cabelos. Viramos um tanto quanto bitoladas para que o liso permaneça por mais tempo.

 Para tirar uma com a cara da mulherada fizeram até uma música que dizia a seguinte frase: “Ih! Choveu, cabelo encolheu”.  Há alguns anos o meu cabelo só não encolheu com a chuva, porque preferi salva-lo a me salvar.
 Era o dia do casamento do colega de trabalho do meu namorado, havia realmente passado horas no salão para deixar os meus cabelos bem lisos e comportados (risos).  No caminho para o enlace, começou a chover e muito forte.  A avenida que estávamos era uma reta quase infinita, mas, a sua volta só havia ladeiras e as águas desciam como se estivessem em um tobogã a toda velocidade.

 Confesso que comecei a ficar com medo, quando o carro parou no semáforo vermelho e morreu. A água havia subido muito e o coitadinho não agüentou. O veiculo começou a boiar e eu a entrar em desespero. Meu namorado tentava me acalmar, mas não adiantava quanto mais falava mais eu gritava. Foi ai que tive a sabia idéia de ligar para a pessoa que sempre consegue me acalmar em qualquer situação: minha mãe.
  Ela acabou foi ficando apavorada com a situação, ainda mais que, comecei a dizer sobre a água que começava a entrar no carro. Ela me pediu para subir em cima do teto do carro não tive dúvida na resposta: “eu? Subir no teto? Com essa chuva? E o meu cabelo?”. Tudo isso eu gritava e berrava. O namorado não agüentando mais tantos gritos resolveu gritar (risos) para eu ficar quieta. Mamãe então educadamente me fez passar o celular para ele e também aos berros disse: “a única pessoa que pode gritar com a minha filha sou eu”.


 O tempo acabou fechando do lado de fora e do lado de dentro do carro. A água subia cada vez mais, e, só os ônibus conseguiam passar por essa avenida. E quando passavam pelo carro, esse balançava feito um barquinho no mar. Já estava quase desistindo de ficar no carro e ficar com o cabelo encolhido e molhado, quando vi alguns homens amarrando outro veiculo, junto a um poste para não ser levado pela força das águas. Esses homens que não eram egoístas como eu e nem traziam consigo o pecado da vaidade nos deixaram em um local seguro. Tivemos que furar o assoalho do carro para escoar a água, só depois disso conseguimos seguir para o casamento, bem sequinhos.
 Enquanto centenas de pessoas sofriam para salvar suas vidas, as de suas famílias e vizinhos, eu só pensava no meu cabelinho esticado, puro egoísmo.

Passado o episodio e fazendo uma reflexão sobre esse fato, me dei conta que brinquei com a minha própria vida por causa da vaidade. Escutava um eco dentro de mim: “Salvem os meus cabelos, não a minha vida”.

3 comentários:

  1. Kkkkkkkkkkk..me identifiquei muito com essa crônica...só quem sofre no salão para deixar as madeixas lisas sabe como é doído ver a chuva estragar tudo!!
    Parabéns Cá texto perfeito!

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  2. Muito legal. Realmente há instantes que nos preocupamos mais com o material do que com o pessoal. Mas entendo essa situação. Apesar de ser homem, também quando me arrumo para ir a algum lugar fico muito preocuopado em não me desarrumar do que com qualquer coisa.

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  3. Não há dúvidas, eu iria salvar meu cabelo!
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